A estrela passa,brilhante e linda,como lanterna no céu.
Depois outra e mais outra,como em fila indiana ( uma de cada vez )
Observo e aguardo,encaixada no pufe do quarto,que venham mais outras.
Tento não me mexer,como se qualquer movimento imprevisto,pudesse interferir na cena celeste.
A janela aberta,escancarada só com a proteção do vidro transparente,parece uma tela de computador…as estrelas passando..como imagens no monitor em descanso.
Permaneço quieta, olhando…
uma…duas…tres…
De repente alguém grita meu nome em algum lugar da casa.Desperto assustada,e me aparto da conexão cósmica.
Filhos…claro !
Não respondo. Finjo que não escutei,mas sinto -me na obrigação de levantar e caminhar até o apelo supersonico. Não consigo.Parece que estou colada no almofadão,como sabonete em sucção na saboneteira.
As estrelas continuam passando : uma…duas…tres…
Alguém por favor,chama um guindaste para me puxar desse pufe ?Estou entalada,não consigo sair…
Peço perdão ás estrelas,que continuam o percurso silencioso no céu. Elas não merecem uma cena tosca e hilária,como essa…um humano entalado no pufe,tentando se levantar,desengonçado como um paquiderme fora d’água.
Indiferentes ao meu sufoco,as estrelas continuam passando no céu.
uma…duas…tres…

                                                     *PENHABOSELLI*

                                                                                                                                                                         MAAT   / 2015