GUARDANDO O SANTÍSSIMO ( O QUARTO )
Visitei o orfanato com o mesmo entusiasmo de sempre. Brinquei com as crianças,contei histórias e dei uma passadinha na capela para orar,ainda que rápidamente.
No interior da pequena capelinha encontrei padre Miguel limpando pacientemente os apetrechos sagrados do Santuário do Altíssimo.
- Filha,alguém precisa manter as orações do Santíssimo hoje. Irmã Carmela está de cama muito gripada.Voce se disporia a meditar em oração por meia hora ?
Aflita e pega de surpresa,não consegui dizer que não ( embora estivesse louca para ir embora,tomar um banho e dormir cedo)
Na verdade eu dormira muito mal na noite anterior.
Gaguejei nem que sim nem que não e a minha indecisão foi minha sentença. Padre Miguel estendeu os braços e colocou na minha mão um pequeno livro de oração,para a prática das preces.Em seguida juntou objetos e paninhos de tirar pó,e se retirou da capela deixando-me a sós para o ato devocional,no mais absoluto silencio sagrado.
Meia hora de oração…eu caindo de sono,cansada pra caramba…
Fraquejei na determinação e na fé, ciente de que - quando estivesse sózinha e mergulhada no silencio - cairia em sono profundo nos braços profanos de Morfeu. Mas mesmo assim ajoelhei e comecei a balbuciar, indecisa ,as preces devocionais.
Nem cinco minutos depois,já me senti incomodada com os joelhos doendo e sentei.Minha cabeça começou a pesar e bambear em cima do pescoço, e eu me entreguei a um cochilo rápido e delirante,com os olhos piscando o tempo todo.De repente vi minha cama ao lado do Santuário, macia e aconchegante,com almofadas e tudo. Perguntei a Deus se era pecado rezar deitada,e antes que ele respondesse,me joguei afoita e cansada sobre a cama,sem me preocupar sequer em tentar entender o que acontecia.Claro que dormi.
Das duas uma : ou Deus exigia minha presença na capela,mesmo que deitada ( e por isso teletransportara minha cama até alí ) ou eu estava sendo tentada pelo demo.
Não sei quanto tempo dormi. Acordei assustada,com o corpo dobrado sobre o banco da igreja,com a boca toda babada e alguém chacoalhando meus ombros. Era irmã Dulce, que antes de dormir fora verificar se as janelas e vitrais da capela estavam fechados e dar uma última checada nos genuflexórios.
Misericórdia…que vexame.Que mico ! Levantei-me toda torta e cambaleante como um zumbi,e pedindo desculpas para irmã Dulce.Saí da capela confusa e preocupada,questionando em silencio interno,se minha cama ainda estaria no quarto quando eu chegasse em casa.
Antes de cruzar a porta da pequena capela para a rua,olhei sorrateiramente para trás e fiz uma varredura rápida com os olhos pelo interior do santuário,na esperança de encontrar minha cama amoitada em algum canto, e me convencer de que não estava louca.
Maat / 2015
Maria da Penha Boselli
Enviado por Maria da Penha Boselli em 15/12/2015
Alterado em 16/12/2015