Quatro e meia da tarde e Sampa anoiteceu. De repente o céu ficou escuro e tremeu. Desliguei o computador e tirei varias tomadas da parede.O temporal ia ser feio.E foi.
A chuva caiu pesada e com muitas faiscas no céu pra tudo quanto é lado.
Levantei do sofá e arrisquei uma espiada pela janela.Lá embaixo,na rua,os carros passavam com farol aceso.As árvores de todos os predios chacoalhavam que nem leque na mão das senhoras.
A enxurrada se formou com tal rapidez que - em segundos - a rua virou um rio.
Mas ao contrário de outras tardes tempestivas,essa de hoje foi rápida.Durou menos que meia hora.
Agora o ar clareou de novo,está leve e limpo,e a cidade toda lavada.
Recoloquei as tomadas nas paredes,e fui até a janela respirar o ar fresco e escutar o sabiá.
Maat / 2015
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Com a cestinha de arame nas mãos,caminhava decidida pelas gondolas do mercado.Queria ser determinada e rápida. Já eram onze horas da manhã e eu precisava começar o almoço ( trivial mas farto ) para que sobrasse para a janta.
Decidida a focar só nos ingredientes necessários,acabei em frente aos pacotes de feijão. Estava com pressa. Estiquei o braço e peguei um pacote pequeno de feijão.Ele era diferente dos outros : miudo,claro e redondinho.
Feijão bolinha...hum...pensei comigo,esse eu nunca fiz. Vou levar e experimentar.
Arematei o cardápio com milho orgânico,tomate e carne moída .Voltei para casa feliz.A refeição ia estar apetitosa.
Em casa coloquei mãos a obra e comecei pelo feijão.Ele cozinhou rápido e redondinho. Pensei comigo que seria bom ter na mesa,mais algum alimento que também fosse redondo.Precisava de algum outro alimento que combinasse com o tal feijão bolinha.
Não ! Milho não ! Milho é quadradinho.O problema é que eu não tinha mais nada redondinho em casa. A batata sorobô, já estava cortada em cubos, e o chuchu deontê idem.
A não ser que...
Rápidamente dei forma á minha idéia.Peguei a carne moída,temperei com alho,cebola,sal,ervas e uma colher de farinha.Amassei,amassei bem e fiz pequenas almondegas bem redondinhas.
Meu almoço ficou gostoso e redondo.As almondegas redondas, combinaram divinamente bem com o feijão bolinha redondo,no prato de louça redondo.
Há !...a rolha do vinho também era redonda.
contato@penhacronicasboselli.com Maat / 2015
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Sempre ouvi dizer que frango que fica virando no espeto dentro daquelas máquinas com vidro transparente,é frango de televisão pra cachorro.
Aqui em Sampa tem varios lugares que vendem o frango assado de televisão.Geralmente os pontos são na padarias.Mas aqui no meu bairro nunca teve nenhum ponto perto de casa. Isso antigamente,porque agora tem !
A padaria mais antiga do bairro,aqui na minha rua,foi vendida pelos antigos donos.Era uma padaria só com balcão pra café e pingado. Nunca teve mesinha,cadeira,nada.Tudo funcionava a moda antiga.
Agora são outros tempos.O novo dono tratou de modernizar o visual.Tem mesas,cadeiras e - finalmente - frango de televisão.
Hoje mandei meu filho ir lá buscar um pra gente experimentar. O frango tava tão bom que não sobrou nem ossinhos pra contar a história.O tempero estava na medida certa : sem pimenta do reino ou qualquer outra pementa forte,acompanhado com batatas assadas com casca,molho vinagrete e uma farofinha fina deliciosa.
Finalmente a paz ! Agora tenho meu frango assado garantido no almoço de domingo.
Antes tarde do que nunca.
Maat / 2015
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Voltei da dentista a pé pela rua Luis Goes ( é a rua de comércio aqui do meu bairro ). Estava chateada com minha dentista que me alertou para a forma rápida como estou perdendo massa óssea no maxilar superior direito.
Resolvi me distrair e caminhei entrando nas lojas,buscando novidades e procurando alguma coisinha para comprar ( velinhas,pilhas,coisas pequenas ) mas meu dinheiro anda tão curto, que decidi gastar os trocados jogando na loto fácil.
A lotérica estava lotadaça. Gente até na calçada.
Desisti.
Pensei : vou embora e depois jogo ali pertinho de casa em frente o hospital São Paulo.
E foi o que fiz,mesmo vendo o céu preto e ameaçador. A chuva ia ser farta mas arrisquei.
Dei dez passos e a chuva caiu,junto com um vento que driblava a sombrinha por todos os lados. Enxurrada grossa rolando solta na sargeta e água me encharcando inteira.
Subi até a lotérica com chuva,com vento e ( toda molhada) constatei perplexa que a casa estava lotada.Gente saindo pelo ladrão.Que decepção.
Fiz meia volta e encarei de novo os dois quarteirões até minha casa.
Chegei molhada que nem um pinto e sem ter feito minha fezinha.
Não era pra ser. Meu sacrifício foi em vão.
Maat / 2015
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Embora estivesse morta de cansada ( arrumei varias cozinhas e fiz almoço e janta para seis pessoas ) esperei até as dez da noite para tomar banho e deitar.
Ocorre que nesse horário,acontece a troca de funcionário lá na guarita.É nessa hora que Seu Antonio ( conosco ha quarenta anos ) assume o posto de guardião do prédio,até as seis horas da manhã.
Fato é que tenho coração mole e fico imaginando que não deve ser fácil passar a noite inteira sentado numa cadeira,até o dia amanhecer.
De vez enquando,me compadeço de Seu Antonio ( que já tem cabeça branca ) e levo até ele um pedaço de torta, de pizza ou um pedaço de bolo. Se já estou de pijama,coloco a guloseima bem embaladinha no chão do elevador,e ele pega lá embaixo no prédio.
Hoje fiz essa boa ação. Levei para Seu Antonio um pedaço de bolo churros.Com certeza ele vai ficar mais feliz e serotonizado,mesmo tendo uma longa noite de vigília pela frente.
Maat /2015
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